1. |
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Eu tinha chegado, o comboio parado
Guitarra na mão, na mala a solidão
Ela fumava tranquila, o seu corpo reguila
Olhou-me por dentro, eu ardi num momento
Disse-lhe que estava perdido
Ela respondeu “Aren’t we all?”
I was smoking outside, just killing my time
Loneliness grows, is you who gets small
He arrived with a guitar in his right hand
Said he was lost, I thought: “boy, believe me,
About losing I know it all
E mostrou-me o caminho que vai dar ao sol
Com brilho intenso
Foi luz de farol
And he pushed me away, away from the floor
Gave me roses and proses
And so much more
Falei-lhe de onde vinha, perguntei para onde vamos
Mostrou-me a esquina onde viu o Joe Strummer
Falei-lhe de fado e de Alfama
De miradouros na Graça, de gente que se ama
Disse-lhe: “preciso de quarto”
Ela respondeu: “tenho espaço na cama”
I took him to Big Ben, to Camden Town
Piccadilly Circus, all bullshit around
Told him about punk-rock and all my heroes
He liked the Pistols, The Clash and The Zeroes
When he asked me where were we going
I thought: “we’re all going mad”
E mostrou-me as esquinas do seu corpo nu
Lagos e colinas
O peito cru
And I took him home and call him my man
Not wife or husband
Soul mates instead
Os anos passaram, as rugas chegaram
Malas e bagagens, fizemos viagens
Chegámos a Alfama, calçada em chama
E gelo na boca, parecia estar louca
E quando a ouvia falar
Eu não entendia as palavras no ar
The years gone by and he made me blind
I went where he was going, no questions behind
But when we got there, to the place near the river
He wasn’t the same, he just didn’t listen
And all that we shared was silence
And tears in bed
E fez os meus dias ficarem amargos
Novas correrias
Fim a passos largos
And I didn’t recognize him anymore
Just waiting for him
To show me the door
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2. |
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No dia em que eu deixar de te escrever
Talvez percebas que as palavras são chão para correr
Corres para mim, corres de mim
Como as crianças no ventre do teu jardim
No dia em que eu deixar de te escrever
Talvez percebas que é raro quem o continue a fazer
E o que é raro não é para desperdiçar
Nem nunca jogar, podemos perder
No dia em que eu deixar de te escrever
As maçãs vão cair, não temos sidra para beber
Nem peixe cru nem homem nu
Nem lábios nos lábios, nem eu nem tu
No dia em que eu deixar de te escrever
Talvez percebas que o pé não quis perder
Agarrei o teu com tanta força
Queria a mão, mas é com o pé que se arromba a porta
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3. |
Queluz está a arder
05:27
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Não te enganes na estação
É Queluz-Belas, não Massamá
Não é bem Sintra nem Lisboa
Não é uma zona bela nem é uma zona má
A Amadora é a aldeia cinzenta onde os alentejanos têm filhos drogados que chumbaram por faltas
As filhas trabalham em centros comerciais e os filhos estão desempregados
Nada acontece, não há p´ra vir
O povo nada pede, apenas mais policia
As ruas que não são seguras, as passadeiras foram apagadas
Disseram que era esta a terra prometida,
mas sem Moisés não há saída
Foi tudo prometido e nada cumprido
E alguém tem de acender o fósforo
Yeah!!!! Queluz está a arder
Não há nada a fazer!
O povo é pacato, mas também não é muito dado.
Se és vizinho fica bem dares os bons-dias
mesmo que não te respondam
As saudades da terra lutam com as overdoses do afilhado
Hipermercados vendem mais barato, mercearias ainda há fiado
E os pretos, os ciganos, os monhés e os caucasianos ´
bebemos da mesma água, matamos a sede nos mesmos canos
mas se há calças roubadas no estendal, há incompreensão racial
Se os comboios estão em greve
Eu vou ter de acender o fósforo
Yeah!!!! Queluz está a arder
Não há nada a fazer!
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4. |
Histórias de Bairro
04:19
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A Joana vai para a escola
A mãe põe-lhe o lanche na mala
O pai é o rei da aldeola
Faz anos que não lhe fala
No intervalo de filosofia
O André leva tareia
De mais um rufia
Esta semana é a terceira
Sei este filme de memória
Já fui personagem da história
Esperar pelas mutações
Há um astro que não se alinha
Esta feira de aberrações
É uma luta de esgrima
Bilhete só de ida
Não há quem o dê
Será que ainda há vida
Para além do que se vê
Neste concurso de rua
Todos ganham presentes
O rufia uma bala só sua
que lhe dispararam para os dentes
A Joana recebeu um bebé
com dezasseis anos de idade
e o prémio do André
Foi ter crises de ansiedade
Sei este filme de memória
Já fui personagem da história
Esperar pelas mutações
Há um astro que não se alinha
Esta feira de aberrações
É uma luta de esgrima
Bilhete só de ida
Não há quem o dê
Será que ainda há vida
Para além do que se vê
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José Camilo Sintra, Portugal
"José Camilo mostra-nos, com palavras e canções, as imagens dos subúrbios que foi fotografando na sua mente. Esta é uma
viagem de histórias, emoções e percepções, todas elas de mãos dadas com o rock." Bruno Martins, jornalista no Metro
Contactos: josecamilo11@hotmail.com
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