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Piruetas de Glória
03:17
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Piruetas de Glória
Saíste naquele dia soalheiro
Pronto p’ra conquistar o mundo inteiro
Mas depois tiveste de pagar
IRS, internet e a carne p’ra jantar
Não tens tempo p’ra ser herói
É mais fácil ter sonhos quando a carteira não dói
A arte dos cautelosos
Mas a arte não é para medrosos
Piruetas de Glória
Um dia vou ser gigante
Reescrever a história
Ser um rei extravagante
Caminhar no sucesso
Recompensa do suor
Vou virar-me do Avesso
E mostrar o meu melhor
Chegaste naquele dia de fevereiro
Sem paciência nem dinheiro
Mais um crime na televisão
Mais gente morta, mais armas na mão
É uma bomba relógio
Tic-tic-tic bum, tic-tic-tic bum
Passaste os olhos pelas redes sociais
Tudo opina sobre coisas triviais
Piruetas de Glória
Um dia vou ser gigante
Reescrever a história
Ser um rei extravagante
Caminhar no sucesso
Recompensa do suor
Vou virar-me do Avesso
E mostrar o meu melhor
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2. |
Não há alternativa
03:32
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Não há alternativa
No dia em que acabaste o liceu
Disseram-te não pares, o futuro é teu
Estudaste todos os clássicos
Aprendeste línguas, não ficaste pelo básico
No dia em que começaste a trabalhar
Acreditaste que só podia melhorar
Pagaste os impostos sempre a tempo
Não te perdeste nem por um momento
Era o esforço que te fazia honrado
Não havia tempo para estar saturado
Qualquer dia alguém iria reparar
O aumento deve estar a chegar
O teu pai pagou-te estudos e pão
Acabaste a faculdade com distinção
Deixou-te preparado para seres o que ele não ousou
Vais ser grande, isto ainda agora começou
Não há alternativa
À história já antes vivida
Não há qualquer saída
Da escória desfavorecida
No dia em que decidiste casar
Pensaste: “vou viver, vou disfrutar”
Mas chegou um mail do patrão
Tinhas sido dispensado da tua função
Fizeste tudo certo e era esta a recompensa
Uma mensagem com a tua dispensa
Eram os cortes necessários
Ficam os primos do patrão, saem os otários
Ficaram os meninos dos colégios privados
Saíram os que cresceram com ténis rasgados
Tu não tens lugar, mas não fiques chateado
Tiveste sempre de lutar, já estás habituado
Vieste da classe baixa e para ela vais voltar
Não há espaço para todos e eles têm de lá estar
Já sabem, têm de ser os mesmos a reinar
A meritocracia nunca vai funcionar
Não há alternativa
À história já antes vivida
Não há qualquer saída
Da escória desfavorecida
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3. |
Até tenho amigos que são
03:05
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Até tenho amigos que são
Tens a atitude de quem se dá ao luxo
Mas, na verdade, devias dar-te ao lixo
Podes até pensar que sou bruxo
Por adivinhar movimentos do bicho
Será que ter coisa nenhuma
É melhor do que ter quase nada?
Ao querer saber ficaste pela espuma
Ao querer sair atiraste a granada
Não é por ser privilegiado
Que só sei olhar de cima
Apenas tenho o discurso afiado
Para acabar com a tua autoestima
Nada contra humanos
Até tenho amigos que são
Estragaste todos os planos
Por não saber o que tens na mão
Quem não pode não promete
Quem nunca soube não esquece
Por isso corta com canivete
A memória que apodrece
Sou mestre da rima no papel
Pensas ser general da tua guerrilha
Nem sequer és soldado ou furriel
Não pões ordem na tua matilha
Fazes-me passar do miar ao rugido
Quando sinto a picada de abelha
Quando me vens falar ao ouvido
É para me morder a orelha
Desconfiei do teu armistício
Prefiro ver a bandeira branca
Agora queres um bailado fictício
Não me convences a abanar a anca
Nada contra humanos
Até tenho amigos que são
Estragaste todos os planos
Por não saber o que tens na mão
Quem não pode não promete
Quem nunca soube não esquece
Por isso corta com canivete
A memória que apodrece
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4. |
O Rio
03:37
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O Rio
Faz lá outro café
Para eu beber esta conversa
Fala lá mais uma hora
Para eu fazer o vice-versa
Queimar palavras como cigarros
Enquanto o tempo passa
Tens flores, mas não tens jarros
Partes a mordaça
Agora que gelas o rio
O barco não pode passar
Quebrarei o gelo frio
Para poder nadar
Faz lá outra moldura
Para eu guardar o momento
Mata lá a criatura
Do castelo do desapontamento
Melancolia em estado triste
A pensar na fantasia
Paixões sempre em riste
Talvez em demasia
Agora que gelas o rio
O barco não pode passar
Quebrarei o gelo frio
Para poder nadar
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5. |
A Besta
04:08
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A Besta
No diâmetro do buraco do teu mundo
Tens espaço para a vaidade
Puxas um cigarro daquele maço do fundo
E com ele vem ansiedade
Vês a besta que está no teu interior
E que te vai desfazendo
Se alguém te vê, pouco a pouco, a decompor
Reinventas a verdade tremendo
Devias admitir a situação
Devias admitir a situação
Devias admitir a situação
Pelo menos numa canção
Não te entendes com a mulher que finges não amar
Queres ter um futuro ao seu lado
Mas tem medo do futuro um dia acabar
E ver o tempo a passar ao lado
E por dentro volta a besta para afastar o mundo
Vives na maior reclusão
E tentas batalhar de segundo em segundo
Para controlar a respiração
Devias admitir a situação
Devias admitir a situação
Devias admitir a situação
Pelo menos numa canção
E se alguém te quiser amar
Vai ter de aceitar
Que quando a besta vem
Não há espaço para mais ninguém
Devias admitir a situação
Devias admitir a situação
Devias admitir a situação
Pelo menos numa …
Pelo menos numa…
Pelo menos nesta canção
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6. |
Filho único
03:24
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Filho Único
O filho único não percebe a pista
Não tem gatilho para começar
Para reparar noutros falta-lhe vista
Não sabe dividir para multiplicar
Desconhece de onde vem o soco
Ou a rajada de ar que o empurra
Poderia desconstruir-se em louco
Ou até cair com a surra
Mãe, consigo sentir os anos a fugirem-me das mãos
Desencantado, mal-humorado
O futuro esboroa-se nos seus pés
Alguém o devolva ao ventre
Quer começar isto oura vez
No desbotar de imagens
Só está presente quando está vazio
O filho único encheu-se de miragens
Mas caiu em terreno baldio
Mãe, consigo sentir os anos a fugirem-me das mãos
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7. |
Amor a Tiros
03:25
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Amor a tiros
Começa no silêncio onde havia cumplicidade
A mão deixou a carícia para o empurrão
Ele diz que faz a sua vontade
Ela responde que o esforço é em vão
Atira o prato
Rasga o vestido
Pisa o gato
Grita ao ouvido
Ele quer recuperar a alegria das fotografias
Ela começa com as habituais coreografias
É uma fase vai passar, diz ele com a cabeça partida
Ela promete: “É a última vez”, diz estar arrependida
Voam talheres na cozinha já sem sabores
Agora é campo de uma batalha caseira
Já se foram os dias de flores
Estão perdidos nos espinhos da roseira
Grita, arranha
Amor a tiros
Cai, apanha
Mais suspiros
Ele quer recuperar a alegria das fotografias
Ela começa com as habituais coreografias
É uma fase vai passar, diz ele com a cabeça partida
Ela promete: “É a última vez”, diz estar arrependida
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8. |
Calculista
02:37
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Calculista
Vai para a guerra como quem faz um filho
Vem da terra e carrega no gatilho
Repete o cenário fingindo a cadência
Destino arbitrário mentindo com prudência
Finge que a mudez não está lá
Deixa a lucidez como está
Naquele trejeito bem pensado
Sabe que não tem jeito, coitado
Lambem-lhe as costas
Dão-lhe um murro na cara
Nem jogos nem apostas
A ser duro a ferida não sara
Atiram-lhe com distância
Não se ganha com relutância
Punhos imaginários do protagonista
Deixam sulcos doutrinários no contorcionista
Palavras caladas que escreves em papéis
Pequenas pinceladas sem usar pincéis
Mergulha na mágoa das letras que mordem
Recorda a água que o inscreveu na ordem
Teme a feroz melancolia do feitio
Rende-se à veloz melodia de arreio
Lambem-lhe as costas
Dão-lhe um murro na cara
Nem jogos nem apostas
A ser duro a ferida não sara
Atiram-lhe com distância
Não se ganha com relutância
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9. |
Que vais fazer?
02:56
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Que vais fazer?
Que vais fazer quando o céu te cair?
Que vais fazer quando o mundo te trair?
O mundo gira ao contrário todos os dias
E tu queres ser o jovem que fugia
Que vais fazer quando o chão se mexer?
Que vais fazer se não de medo morrer?
Os cristais já partiram nos teus dedos
Não sentiste o choque dos torpedos
Lembras-te de te esquecer
Que estás cheio de recordações
Mas quando encontrares a tua casa
Que vais fazer?
Que vais fazer quando te deitares em barro?
Que vais fazer quando te acharem bizarro?
Partiste a espinha quando te levantavas
Ninguém te deu a mão que precisavas
Que vais fazer quando te mirarem?
Que vais fazer quando te caçarem?
A estrada tortuosa está adiante
Mas não tens mão no volante
Lembras-te de te esquecer
Que estás cheio de recordações
Mas quando encontrares a tua casa
Que vais fazer?
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10. |
Mudemos as regras
04:42
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Mudemos as Regras
O cantor cantava sobre Paris
Nós falávamos nos camarins
Ela dizia “lembro-me de ti”
Eu fingia não ser bem assim
Mas lembro-me bem da esplanada e do bar
Da poesia e do Rimbaud imitar
Lembro-me bem do meu ar vadio
De não haver faísca para o meu pavio
Eu plantaria a rosa se os espinhos não crescessem
Eu escreveria a prosa se as mãos não me doessem
Mas mudemos as regras
Porque não sei se te entregas
Não queria jogar, não queria arriscar
Desisti por não querer falhar
Pensei nos cortes nas minhas mãos
Nas pisadas nos pés de tanto turbilhão
De mãos agarradas há quem acredite
Que derrubamos o mundo inteiro
Não me agarres a mão porque tenho a medo
Que, desta vez, a largues primeiro
Eu plantaria a rosa se os espinhos não crescessem
Eu escreveria a prosa se as mãos não me doessem
Mas mudemos as regras
Porque não sei se te entregas
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José Camilo Sintra, Portugal
"José Camilo mostra-nos, com palavras e canções, as imagens dos subúrbios que foi fotografando na sua mente. Esta é uma
viagem de histórias, emoções e percepções, todas elas de mãos dadas com o rock." Bruno Martins, jornalista no Metro
Contactos: josecamilo11@hotmail.com
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